Quem quer o almirante Gouveia e Melo na Presidência?

Por José Santana Pereira (Iscte-IUL)

Nesta sondagem perguntámos aos inquiridos qual era a probabilidade de votarem numa série de candidatos presidenciais em 2026 — nomes que, por motivos vários, têm sido identificados na esfera pública como potenciais candidatos a Belém. Os resultados mostram que o candidato cujas probabilidades de voto são mais altas — ou, melhor dizendo, menos baixas — é o almirante Henrique Gouveia e Melo, cuja notoriedade e prestígio decorrem, como é sabido, da liderança do processo de vacinação contra a covid-19. Estes resultados vão ao encontro de uma sondagem da Intercampus publicada em julho deste ano, sondagem essa que revelou que, com 32% dos votos, Gouveia e Melo seria o candidato presidencial mais votado.

Uma análise mais atenta dos dados agora recolhidos revela que os inquiridos que expressam uma maior probabilidade de votar em Gouveia e Melo são tendencialmente mais velhos (a probabilidade ultrapassa o ponto médio da escala nos grupos com idades superiores a 45 anos) e de direita (nomeadamente, autoposicionados nos pontos 6 a 8 de uma escala em que 0 significa “esquerda” e 10 “direita”). Junto dos inquiridos de direita, Gouveia e Melo é, de resto, e neste momento, o candidato hipotético mais popular. Ao contrário do que se poderia cogitar, tratando-se de uma pessoa sem um passado político relevante, uma probabilidade elevada de votar em Gouveia e Melo não aparenta conter elementos antielite ou antissistema, dado que este voto não é mais provável junto de pessoas sem identificação partidária, insatisfeitas com o desempenho dos atuais primeiro-ministro e Presidente da República ou cujas características socioeconómicas os colocariam na categoria de “perdedores da globalização” (por exemplo, menos instruídos, com rendimentos mais baixos). Pelo contrário, a probabilidade de expressar uma preferência por Gouveia e Melo é até maior para quem está satisfeito com o desempenho de Marcelo Rebelo de Sousa.

De qualquer maneira, a três anos e meio da eleição, a expressão de uma preferência por um potencial candidato presidencial pouco mais significará do que admiração pela personalidade em questão. Neste momento, o almirante Gouveia e Melo ainda será favorecido pela enorme importância que o combate à pandemia teve para a população portuguesa nos últimos dois anos, beneficiando dessa saliência por ser visto como tendo feito um bom trabalho à frente do plano de vacinação. Contudo, com a guerra na Ucrânia, a crise energética e a inflação, as coisas podem mudar: haverá novos desafios e novos desideratos. É muitíssimo provável que a saliência do tema pandemia seja menor em 2026 e que um longínquo sucesso na implementação de um plano de vacinação há meia década seja ultrapassado por outros fatores enquanto critério de escolha de um Presidente.


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